quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

R.

São Paulo, outubro de 2013.

R., dia desses inventei de reler Vermelho Amargo (como pode um livro tão pequeno, ser tão intenso, tão cortante? por mais que eu já tenha lido outras vezes, ele sempre me dói, sabe?) e me lembrei de você. Se não me engano, por coincidência, te falei sobre esse livro, e você já havia comprado na última Balada Literária. Insisti que você o lesse logo, e você dizia que havia tantos outros na fila. Até que, um dia, recebi sua mensagem: ““Faltava-me garfo para lutar contra a paixão, e amei com desgrenhadas medidas.” Vermelho Amargo é muito bom” Até descobrimos nossos amargores vermelhos: o meu, Ketchup - eca! O seu, tomate.

E fiquei pensando em tudo o que aconteceu, tudo o que não aconteceu, e tudo que poderia ter acontecido. Meu problema é pensar demais, rs. Pra tentar ordenar as ideias, lhe escrevo esta carta.

Você se lembra do show do Milton Nascimento? Acredita que até hoje ouço Amor de índio e Clube da esquina 2 e tenho impressão de que ainda estou lá, no teatro, quase de frente pra ele, sem conseguir conter o choro? Ah, e nada me tira a ideia de que ele aproveitou a música Canção da América pra tirar um cochilo, rs. Olha, eu não erro mais a numeração dos tickets, aprendi que nem sempre o 34 e o 35 ficam lado a lado, rs. Nossos tickets trocados, um quarteirão de cadeiras nos separando e, ainda assim, compartilhamos a mesma emoção. Penso que aquele dia estivemos perto. Pois queríamos estar ali. Queríamos estar juntos.

O Natal está chegando, e no Natal passado, você me disse que seria titio. Combinamos que eu abasteceria a biblioteca da pequena, rs. Os livros ainda estão guardados. E já tenho outra mini biblioteca pra montar, a da minha prima, a Maria Julia.
E por falar na sua sobrinha, vou sempre achar o máximo você ter irmãs com a combinação mexicana do meu nome composto, rsrs.

Acho que o tempo foi injusto com a gente. Como na canção, digo que ele, o tempo, adormece às paixões. E tapo os ouvidos para sua resposta: eu desperto. Pois depois veio o Rio. E tudo mudou. Sinto que tenho tanto a te dizer, mas nunca vou conseguir. Imagino como seria se você tivesse ido também, se tivesse rolado a sua ida como planejamos. Tudo seria diferente. Tudo. Mas já foi. E foi como tinha de ser.

Na volta, passei a virada do meu aniversário contigo. E você me disse que isso é coisa séria, rs. Mesmo sendo sério, o fato é que não estávamos ali. Tudo já estava desencontrado, e por mais que tentássemos, os trilhos seguiam destinos opostos. Nossa festa era festa pronta pra acabar.

Quando voltei do Carnaval, eu estava ansiosa pra te encontrar. Naquele momento, você era o que eu poderia ter de mais seguro, me agarrei à ideia de que você poderia deixar todos os meus fantasmas para o lado de fora. Mas quando nos encontramos, no mesmo teatro onde assistimos o Milton, desta vez, com os ticksts certos, lado a lado, tive a certeza que não existia mais nada. E nunca estivemos tão distantes. Senti frio. Foi ali que começou. Foi ali que terminou. Até hoje, não entendo algumas coisas e algumas perguntas atropelam os meus pensamentos.

Mas o carinho e a amizade nunca deixaram de existir. Sinto falta de compartilhar minhas leituras contigo. E dizer que Alejandro Zambra fica infinitamente melhor depois da segunda leitura. E que ainda acho que você se parece muito com o Julián, do A vida privada das árvores. E que ainda não sei dizer ao certo se sou o Álamo ou o Baobá, rs. Ah, também quero dizer que você é um dos caras mais lindos e mais sensíveis que já conheci. Tenho certeza, irei a muitos lançamentos de livros seus. Você me indicou Borges e me apaixonei, rs. O poema A Biblioteca me emociona. Você ouviu o novo CD do Amarante? Gostei de algumas. Mas queria mesmo é Los Hermanos de novo, rs.

Não consigo terminar esta carta. Sempre acho poderia ser melhor, que eu poderia trançar melhor essas linhas mal escritas, sempre acho que te devo mais.

Um abraço apertado. Um beijo. E até mais um dos nossos encontros a gosto do acaso.

Carol.

Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar...



2 comentários:

  1. "Mas já foi. E foi como tinha de ser." ...A vida é bem assim mesmo...Lindo e real... Obrigada Zoca! Não vejo a hora do próximo =)
    Beijos

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    1. Obrigada, Maricota! ;)
      a próxima é a Lu, quebrando tudo, rsrs :)
      Beijo

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