Avaré, 05 de Janeiro de 2014.
Hoje,
meu último dia de recesso do trabalho, eu parei para rever minhas
caixas de memória. Hoje, sem querer, sem pensar e sem forçar, eu
relembrei você. Das cartas às fotos E lembrei o quão doloroso é
saber que a nossa amizade, tão viva e tão plena no passado, anda
doente e distante nesse presente de meu deus.
Reli
as muitas cartas que você me escrevia e sempre me integrava dizendo:
não lê na minha frente, tá lu? Tenho vergonha. Revi
as fotos do seu casório e pude revisitar aquela sensação única que
só um casamento árabe me fez sentir. Desde a sua entrada, com
risos e palmas (contrariando as tradições dos chorosos casamentos
cristãos), até a dança de roda que só fez unir todos os
convidados em uma só emoção e um só querer.
Recordei
as divertidas tardes de estudo regadas a almoços deliciosos e
fofocas sem fim. E lembro, minha Maninha, lembro que você
por muitas vezes foi capaz de trocar o seu sorriso pelo meu. Lembro
do quanto você vibrou com aquele meu inacreditável 8,5 em
matemática. Resultado do seu amor em minha vida, do seu cuidado.
E
aquele dia na avenida paulista? Você consegue recordar? O dia em que
você foi testemunha de uma linda história, que anda tendo
resquícios no meu coração ainda hoje, quase sete anos depois. Até
ali, quando meus olhos brilhavam e meu coração batia em ritmo de
escola de samba, até ali você estava comigo, minha Maninha.
Você,
minha Maninha, continua sendo uma das pessoas mais bonitas que eu já
conheci. E olha que eu já pude conhecer algumas pessoas nessas minhas andanças
pelo mundo. Mas não, eu não falo só dessa sua beleza física
imponente. Falo de uma beleza branda, serena, poética. Falo de uma
beleza pura, livre, que faz com que lágrimas de eterna gratidão
caiam dos meus olhos inundando o meu coração com os sentimentos
mais belos.
Fico
pensando em como Deus foi bom em ter permitido esse nosso encontro.
Por isso eu resolvi te escrever. Para te manter em mim. Tenho medo de
te esquecer, tenho medo de ter raiva dessa nossa distância
continental, tenho medo que o tempo deixe a nossa amizade presa no
passado. E eu não quero ela presa. Quero ela livre, como sempre foi.
Sim,
eu sei que nossos caminhos tomaram rumos visivelmente diferentes.
Você se casou, teve duas filhas e mora no Canadá. Eu terminei
aquele namoro (sim, Maninha, papo pra outra carta), adotei a Mafaldinha
– minha filha felina – e trabalho no interior de São Paulo,
depois de ter armado barraca por uns tempos no Rio e no Sul.
Sim,
também sei que a nossa comunicação anda péssima, por ambas as
partes. E sim, desde o nosso último abraço, em meados de 2012,
eu realmente não faço a menor ideia de quando te abraçarei de
novo.
Aliás,
receba essa carta como um abraço, minha Maninha. Ela é o meu
abraço, o meu beijo, o meu cuidado, o meu querer. Ela é um tantinho
desse meu amor por você.
Eu
não podia deixar que 2014 entrasse na minha vida sem te visitar em
palavras. Não podia seguir por esses primeiros dias calorosos de
janeiro sem desejar a você todas as luzes divinas. Não podia me
jogar no mundo sem cantar pra você todo o meu carinho e todo o meu
afeto.
Você
me faz mais forte, sabia?
Porque
só de te escrever – mesmo não sabendo se você vai ler – eu me
sinto mais leve. Sabe aquela sensação purificante que a água de
uma cachoeira nos causa? Então, é assim que eu me sinto, nesses
restinhos de palavras.
Obrigada
por me amar, minha Maninha, mesmo que em silêncio.
Obrigada
por compreender os meus sumiços. Obrigada por me fazer crer que não
há oceano no mundo capaz de calar nossa amizade.
Eu
te quero bem, minha Maninha.
Te
quero bem.
Lu.